Considero que o kung-fu funciona como um
mapa na nossa vida. Não se trata de criar seres superiores fisicamente mas sim
num todo, mental e físico. Pessoas com melhor capacidade de decisão e sobre
tudo com valores. Modela-nos de forma a sermos pessoas que não desistem á
primeira advertência nem a nenhuma outra que se siga.
Quando Di-Som referia “Seres Humanos
Superiores”, implicava – não um padrão de competição ou comparação relativamente
a semelhantes em seus vários níveis de desenvolvimento ou “despertar”.
Falava da RESPONSABILIDADE que desperta
no praticante VERAZ, NO SENTIDO DE SER ELE MESMO FACTOR GERADOR DE MUDANÇA EM
TERMOS DE QUALIDADES A PROMOVER:
o praticante é esse “Ser Humano Superior”-
que, uma vez comprometido com a via (caminho) vai ganhando consciência da
verdadeira dimensão da sua existência, lhe dá sentido através do serviço
simples e desprendido e caminha junto de outros que o fazem no mesmo sentido –
através de outros meios (ou formas de caminhar) igualmente comprometidos com o
sentido de aspiração e o bem, a verdade e a virtude como referências a manter
despertas se a “noite escura” ofusca o caminho claro e definido que se iniciou
no caminhar: são estes valores a estrela guia do caminho marcial.
–
no sentido em que refina a consciência dos vários “potenciais” dormentes
esperando serem transformados em atitude e acções concretas (daqui o sentido de
pertença – sempre aliado ao sentido de refinamento ou superação: o que se
concretiza em termos de qualidade no “espaço de privilégio” carece de
VERDADEIRO SENTIDO se não houver correspondência prática no “campo maior” da
vida social na que o praticante se insere.
Particularmente, para o nosso “pequeno
tigre”, A PERSEVERANÇA é o fruto da semente “teimosia”… como a Sabedoria –diamante
pristino - poderá estar dormente no
carvão da mente lesta…
Kung-fu… o que é bem feito, opção, acção
meritória, mestria através do esforço consciente, Ser… implica a acção que não
deixa rasto… ou um saber ser, estar e fazer que melhoram e elevam o patamar de
consciência do próprio e o dos que o rodeiam para melhor e mais perto se
encontrarem dos estados de consciência ditos “sublimes” – ou simplesmente “livres”.
Dizem que Lao Tze (o mítico fundador do
Taoísmo) caminhava nas batalhas por entre as flechas pois Lao-Tze não estava lá
para ser atingido pelas flechas…
Em última instância – o caminho
verdadeiro - levará a que a tendência natural das opções e atitudes seja a da
virtude, a tendência natural da acção seja a da re-armonização onde haja ruído,
da cura onde haja dor, da esperança onde ainda exista cegueira e da confiança
onde o medo parece ser a verdade derradeira.
Lenta e gradualmente – os
exercícios praticados com devoção - levam o praticante a escolher conscientemente
uma abordagem deveras PROACTIVA – que implica aspiração ao refinamento – em contraste
com uma abordagem REACTIVA – que implica identificação da consciência com os
seus padrões de programação base.
Um e outro – Tigre e Dragão – competem no
ser do praticante ao longo do seu percurso enquanto tal.
Manter um bom discernimento – aspiração constante,
sentido de VERDADE/HARMONIA e SENTIDO DE PERTENÇA (estou “aqui” e represento
algo – “sou alguém”: logo reconheço um sentido para assim ser e as opções do
caminho levarão à concretização dos desígnios do SER MAIOR nas opções tomadas
baixo o livre arbítrio – opção consciente e esclarecida).
Isto é – como célula do João – depois de
ser PLENAMENTE CONSCIENTE de ser o João e – AO MESMO TEMPO – uma sua ínfima
parcela, escolho CONSCIENTEMENTE e por LIVRE OPÇÃO – integrar esse todo, doando
todos os potenciais (dons, qualidades) que ainda se encontram dormentes e que
desperto pelo exercício diário daquilo que “é bem feito” – Kung-fu – para bem e
benefício do ser/ organismo “João” do que conscientemente sou parte integrante.
Expanda “J” em termos UNIVERSAIS e
concentre a Célula no João que você representa.
Ai tem parte de um pensamento assaz motivador!
Ai tem parte de um pensamento assaz motivador!
Kung-fu, poderia ser entendido – simultaneamente
como o “caminho” – ou conjunto de exercícios, provas de vida e sentido de cooperação
com os companheiros debaixo da égide de um código de honra (WU-DE) e – neste caso
– indo além da especificidade cultural intrínseca à sua Origem Geográfica (a
República Popular da China), ser extensível a todos os seres humanos que – em bem
e virtude – desenvolvem esforços conscientes e meritórios no sentido da
aspiração sem esquecer o seu sentido de pertença: a um determinado tempo, a uma
localidade ou grupo populacional, a uma determinada cultura e num determinado
paradigma no que lhes cabe um papel activo fundamental na hora de desenvolver o
seu potencial ao serviço do todo harmónico que sabem estar implícito ao Dao
(termo circunscrito para referir a Consciência Universal);
O FACTO de TODOS partilharmos esta extraordinária
corporalidade permite que tenhamos uma LINGUAGEM UNIVERSAL – e um conjunto de
saberes que UNIVERSALEMENTE podem ser catalogados como “caminho” para o
refinamento, expansão e integração da consciência – desde o isolante ser “eu” –
circunscrito às paredes do seu pequeno quarto… até ao sublime amanhecer – no que
a aurora desperta a vida das coisas e você abre os braços e se sente parte
desse outro SER.
O espaço de privilégio é o espaço onde
temos a sorte de podermos aprender tudo o que referi anteriormente, e onde em
contra partida só nos pedem “para dar o litro”. Onde respeitamos e somos
respeitados, sem espaço para pensarmos no que está para além desse espaço, pois
o que está para além deste espaço está para além deste espaço… e nele
preparamo-nos para o exterior.
O primeiro saúdo é um compromisso com
nos mesmos, estamos a entrar no espaço de privilégio, vamos esquecer tudo o
resto e vamos dar o máximo.
O segundo saúdo é dirigido ao professor
e pelo professor, nós damos o máximo para aprender e o professor o máximo para
nos manter empenhados.
O terceiro saúdo fazemo-lo por todas as
pessoas que deram a vida pelas artes marciais, e nos deixaram tudo o que
aprenderam.
O quarto saúdo é para o companheiro,
como sinal de respeito e de que vamos fazer de tudo para aprendermos com ele e
darmos o que tivermos para que ele aprenda connosco.
O TAO é nada mais, nada menos do que o
consolidar daquilo que sabemos. O TAO é como que o garantir de que as nossas
escadas no subir da montanha estão firmes. Se soubermos o TAO não corremos o
risco de descer o que já subimos na montanha.
O tigre e Dragão representam um combate
eterno, são dois animais que se complementam, um gosta da firmeza, de sentir o
chão e de ser agressivo usando a força, enquanto o dragão voa e pensa e é
paciente.
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