sexta-feira, 8 de março de 2013

Os Cinco Saúdos... como se Caminha no aperfeiçoamento



1 - O que é para ti o kung-fu;

           


Mestria através do mérito, aquilo que é bem feito... acertando na aplicabilidade do que se é, se sabe e se procura promover. 

Tem aplicabilidade prática na sua vida pessoal, em família, na vivência afectiva, e no enquadramento no meio social onde vive: kung-fu implica estar "PRESENTE" sem se alhear do sentido de pertença ao um tecido humano concreto.

É um caminho – via de vida e virtude – com um código (Wu-De) que nos orienta segundo valores alicerce para metas que elevam e ajudam a transcender o humano dito normal (da norma, do "número" e da estatística) tendo - no entanto - como base fundamental, essa mesma humanidade do praticante - seus valores e virtude - HUMANIDADE esta com letra Maiúscula.

Pode também por isso ser chamado de “acção virtuosa” ou o que é “bem feito”;

Para mim - é o caminho do que amo e da forma como o faço com devoção - levando essa chama onde prenda e alimente por dentro outros seres em busca do seu próprio ritmo para andar o caminho da vida;



2 - O que é para ti o espaço de privilégio;
           

Representa o lugar interior onde a ATITUDE se mantém o mais refinada possível – ou seja – mais perto da fonte.

Como partimos do físico para ir reconhecendo o psicológico, o energético o padrão de harmonia e ir entrando em sintonia com a Fonte em companhia dos (e com a ajuda dos) companheiros – o espaço de privilégio é pessoal – interior – e é partilhado também em espaços físicos concretos a nível exterior… até que a vida toda se transforma em espaço de privilégio.




3 - Resume por palavras tuas dos cinco saúdos;


            1º Saúdo-

Ao entrar ou sair da porta da sala de privilégio – consciencialização da verdadeira natureza do espaço de privilégio.

Momento de atenção consciente para a forma como me encontro, que tensões trago acumuladas, que preocupações - de forma a ir transmutando de maneira consciente -  os elementos que são “nós” ou assimetrias no meu fluxo na via/ chi/ harmonia.

Momento de atenção consciente que evoca a presença física do praticante perante a entrada no seu “lugar de privilégio” – forma de ir gravando a memória vivencial – apreendida-interna-real que estimule a prática segundo os preceitos do código marcial e que – gradualmente – se expanda até se tornar o praticante o lugar de privilégio, máximo exponente da arte que desenvolve pelo simples facto de ser (irradia e vive harmonia)
Momento de atenção consciente ao sair do espaço físico de privilégio que evoca a diferença qualitativa entre o primeiro e o segundo saúdo – se existe algo novo, positivo, apreendido pelo meu mérito – então o Kung-fu fez-se e o praticante está um pouco mais perto do cume da montanha;

            2ºSaúdo-

Entre professor e aluno – o professor garante que – independentemente dos vínculos que possam existir a nível de exterior – desde aquele momento se compromete a honrar os princípios da arte marcial pura e a dar o seu melhor para levar o praticante a seu cargo um passo mais perto de assumir o seu centro, a subir ao seu "topo de montanha".

O Aluno assume compromisso semelhante – reconhecendo no professor uma referência que – seguindo o princípio da confiança e da honra – vai seguir para seu bem, em termos de desafio e crescimento pessoal rumo ao seu lugar no “centro” – topo da montanha. 

Neste percurso – aluno e professor fazem o trajeto na figura de “primus inter pares” ou de “irmãos maiores e irmãos que começamo caminho”.

Ambos se abrem ao “Grande Mestre Oculto” – é esta a faculdade de estar permeável a que a Harmonia Universal (da qual somos parte integrante) se revele através da relação sincera e comprometida no processo de aprendizagem que professor e aluno estabelecem – este vínculo é evidenciado através do gesto simbólico do saúdo.

Gesto marcantes – nas artes marciais – funcionam como “lembretes” que evocam à consciência (acelerada pelos tempos modernos em atividades de sucessão rápida e pouca profundidade de conteúdo) a"evocar" todos os dias um pouco mais profundamente – e em serenidade – a razão profunda das coisas e dos vínculos entre praticantes.

            3º Saúdo- 

O Original é virados para Este – para o SOL QUE DESPONTA: os valores que se perderam, o mundo idealizado que sabemos devemos fazer valer neste outro que a ele esta ligado por pontes de sonho, intenção, perseverança e concretização por factos; é a manutenção através de valores FUNDAMENTAIS que dão solidez à pratica e aos praticantes.

O Objectivo é gerar seres Humanos superiores – capazes de compreender a "resistência" (a sombra, o oponente) como forma de transmutar a sua essência em refinamento; capazes de ser geradores de harmonia entre os elementos menos refinados e capazes de estar em sociedade como elementos válidos na sua elaboração estruturada com base nos mais altos valores que ALICERÇAM o ser humano e assim mantiveram até hoje a humanidade coesa.

Colocamos uma jarra simbólica num recanto da sala – para marcar a orientação do saúdo.

No Saúdo incluímos aqueles que devotaram a sua vida a cultivar e preservar os conhecimentos da arte – mantendo-se fiéis e vivos, contribuindo assim para o desenvolvimento da arte com a sua pesquisa pessoal; incluímos os que – no presente – mantêm essa linha de coerência e o caminho aberto para quem quiser percorrer – guardando-o na sua essência e pureza de fundamentos e valores – para que se não confunda com os vários sucedâneos que tendem a projetar a arte marcial ora como um desporto de combate, uma forma de luta ora como uma metodologia de “wellness”.

Nós sabemos que é uma via de crescimento e superação constantes, alicerçada de forma pragmática com saberes de alto nível, através da estrutura mais óbvia: desde o ser humano integral – HOLÍSTICO-  e que nos leva em caminho durante toda a nossa vida, sendo a nossa vida o caminho : a via e a virtude a sua prática.

Nós na nossa sala saudamos a Oeste por uma questão de espaço – sendo que é mais pelo simbolismo da jarra ficar na face oeste e a sala ter uma orientação própria.

            4º Saúdo- 

É Extensão do primeiro – Honra e Confiança:

só após me esvaziar do “ruído” interior (eco e sintonia do ruído onde me movo) no primeiro saúdo e marcar o vínculo de ligação a todos os “grandes” que praticam ou praticaram (e que transcenderam esse ruído entrando em sintonia com a Harmonia Universal) – consciente de que comigo avançam no sentido verdadeiro da arte: 

refinamento do ser e despertar da consciência pura - sentido de vida ou aspiração;

Só após estar consciente e concentrado neste propósito é que posso entrar em “combate” ou em desenvolvimento de técnicas com o companheiro (a).

Para nós – o combate traduz o “entrelaçar uma mente mais uma mente  para gerar algo novo", que nenhuma poderia por si mesma e que aproxima a consciência do padrão unificador e de sintonia com o Cosmos”: 

daqui que a dança – com a consciência de ritmo e fluxo universal através dos padrões harmónicos da música – ter um mesmo fundamento vital junto com as artes marciais.

Seria impossível entrar nesse estado de excelência – de clareza interior, de precisão – sem a devida integração da consciência daquilo que estou a fazer como praticante e o que move o impulso do combate dentro da Verdadeira Arte Marcial.

Assim, o quarto saúdo – é um contínuo dos três antecedentes – honrar os Veneráveis que antecederam meus próprios passos e cujos ecos me apresso a seguir, no sentido de reconhecer a mesma essência, o mesmo princípio de harmonia no rosto do companheiro e saber que o registo da Harmonia Universal – por sua intrínseca natureza – quando duas consciências despertas se entrelaçam – gera o novo.

É quando um e um são Três.

            5º Saúdo- Inicio do Tao e final do TAO

O Tao representa a OBRA – a VIA – A VIRTUDE.

São os parâmetros que permitem a total união entre forma, carácter e universo – é o livro de estudo permanente e aporta de entrada – sempre aberta – apara o nível superior da prática. 

Por isso nos preparamos de forma especial no momento de o VIVENCIAR – procurando assimilar o máximo do seu conteúdo descobrindo através da entrega – sempre coisas novas – seja em posições, giros, estabilidade, ritmo, equilíbrio e além…


4 - O que entendes por "Tao";
            

O Caminho leva ao APERFEIÇOAMENTO.

Somos luz que vibra em padrões harmónicos (ou não) – dai que – o regresso à luz, a iluminação, ao reencontro com a harmonia da que sou gerado – é algo reservado para alguns (enquanto outros permanecem latentes... sementes ainda em Inverno esperando uma Primavera interior que o reclama da cegueira).

Sendo pragmáticos – em cada dia que saio pela porta – se dei o melhor de mim (e ter paciência com os momentos nos que poderia ter corrido melhor e não sucedeu - perseverando na determinação de que vai correr melhor na próxima vez, estando desperto que cada momento da vida – como cada exercício da aula – representa uma oportunidade única para me refinar) e revelei qualidades e valores acima e além do que aqueles que trazia desde que entrei na sala – fiz o melhor e sai da prática com algo mais de refinamento: na prática - tempo implica qualidades reveladas pela devoção e atenção consciente do praticante.

Às vezes pode ser uma flexão a mais, ajudar um colega que precisou apoio no relaxamento, desafiar a fazer melhor técnicas pelo lado menos dominante, procurar entrar mais em sintonia com os companheiros, contribuir para que o círculo avance… pequenas grandes coisas que – somadas – são as peugadas do caminho marcial – praticado (palmilhado) dia após dia.


5- Que significa para ti a relação etre o Tigre e o Dragão;


            O Dragão pode ser considerado a súmula dos elementos.

Lembrar que – ao contrário do Ocidente – os Dragões no Oriente são seres Sábios, associados aos elementos, de uma leveza extraordinária (voam sem asas)… uma harmonia subtil que nós traduziríamos à maneira ocidental por “poder” – o poder de transformar os nós ou crivagens no padrão de harmonia em opções que conduzam de regresso a caminhos de vida e virtude…

Cada praticante evolui – desde os aspectos físicos, motrizes, psicológicos, estratégicos – evidenciando cada vez mais refinamento e qualidade técnica (e humana).

Os animais representam os elementos ditos “ocidentais” – ou seja – o fogo, a água, a terra e o ar – que se relacionam com os sólidos pitagóricos, Platão e Euclides – na medida em que são matrizes através das quais a consciência una se pode manifestar – são sólidos tridimensionais – PRISMAS – que traduzem o SER em uma cadência, forma de ser e estar  - específicos.

O Tigre representa a Terra – é o CUBO – em duas dimensões é o hexágono, em três é o cubo – é a matriz tridimensional primeira – pois – as matrizes estão matematicamente emparelhadas (estudar).

O Dragão corresponderia ao Éter – havendo a Fénix que daria sentido ao fogo – sendo oculta e estando presente em todos os taos e nos outros animais por ser o carácter, o espírito que inflama a arte – ao contrário dos outros elementos – o fogo é desemparelhado (estudar Euclides e os Sólidos para as matrizes de realidade).

Se o Dragão representa o ETER – o QUINTO ELEMENTO – a CONSCIÊNCIA que de todos faz parte e a todos unifica – então temos que o estilo do animal é a "porta" que guarda o elemento - PRATICANTE E TAO serão UM - na medida do mérito evidenciado pelo praticante e que levou à aprendizagem dE UM Tao superior.



A medida da DEVOÇÃO À ARTE, e a VERDADE da sua BUSCA no caminho marcial serão factores que marquem a incorporação da CONSCIÊNCIA REFINADA implicada na repetição constante e vivencial do Tao - até que praticante e Tao sejam Um e a Consciência correspondente ao elemento seja "desperta" no interior do praticante. 

Quando o praticante adquiriu mestria no estilo – o gravou em si: 

na forma de aprendizagem VIVENCIAL (não se consegue transmitir por conceitos - deve ser APREENDIDA e desperta desde dentro pelo praticante) que já sabemos – a essência que o Animal guarda – seja ela a Tigre (terra), o Ar (garça), a água fluida e vitalidade (Cobra) ou o fogo (que transmuta – símbolo de sabedoria e estagio elevado de desenvolvimento para as portas dos TRÊS GRANDES CÍRCULOS – que são os que existem após os círculos de Bronze, Prata e Ouro.



Dito isto – o Dragão – animal mitológico – representa o mundo ideal que o praticante sonha e ao que aspira através da orientação e guia do legado dos ancestros, e da virtude que ensinaram a vivenciar na sua passagem neste plano de existência;

Seja através das referências atuais que norteiam o seu caminho de aprendizagem e dos companheiros que com ele caminham. 

Eternamente inalcançável – é o guardião do sopé da montanha - que o tigre – o primeiro elemento – com a sua solidez e serena perseverança na aspiração: 

a coragem de avançar perante os mais diversos obstáculos, a tenacidade para agarrar as oportunidades de crescimento e subir mais um degrau na escada (e ajudar outros a subir sempre que possível) -  representa o ser “pequeno” por fora mas já grande por dentro – que aspira ao refinamento e à integração nos três grandes círculos que guardam o ELEMENTO UNIVERSAL.



(Nota – para os chineses – os elementos também são cinco mas divergem dos "clássicos gregos de origem ariana: madeira, metal, fogo, água, terra – não existindo uma relação de “primazia” ou causa e sentido - do éter: consciência universal – para com os outros quatro elementos que permeia e compõe -  tal como na visão grega).

Para o praticante – há os cinco elementos em interação e harmonia entre si.



O facto de se DESTACAR os ELEMENTOS da sua MATRIZ UNIVERSAL - onde estão em sinergia - logo não perceptíveis como "elementares" - existe para fins terapêuticos - quando o sinergismo vital está fora de regulação (ou feed-back, ou retroacção) é o momento de que o iniciado intervenha com um conjunto de saberes e técnicas que permitam emular a sintonia original e devolver a mesma ao seu estadio de integração base.

A soma dos elementos é HARMONIA – simbolizada pelo Dao (tao) – o princípio fundamental;



Comentada em axiomas que procuram iluminar o praticante numa linguagem de inversos que se anulam - para que a mente se reconheça ferramenta da consciência maior que a habita.

Através do Dao Te Ching (a virtude e a via) e comentada através do princípio da eterna e permanente mutação – I – Ching : ou o livro que traduz as ”mutações” do ser e do universo”) temos um saber vivencial traduzido em axiomas simples que apenas que os vai experienciando poderá descodificar da forma correta  - eis um dos aspectos mais fascinantes da arte marcial - poderemos teorizar (e é importante a análise criteriosa dos vários elementos técnicos que compõem a arte - desde a biomecânica do kung-fu externo, aos ângulos articulares precisos de cada posição do Tai-chi, ao princípio do efeito piezoelétrico e estados alternativos de consciência derivados da "meditação em movimento) que se obtêm na prática do Chi-Kung.

Dito isto – boa caminhada no encontro permanente entre o seu tigre que aspira e o seu Dragão que guarda a porta do templo sublime;




Saúdo Marcial

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