segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Caminho Marcial

Por vezes... o caminho da arte aparece como - seco - sem vida... pois estudar, aplicar e viver os FUNDAMENTOS que alicerçam a arte é algo que o tempo moderno tem dificuldade em encarar...

Ainda lembro um certo jantar depois de torneio, no que um dos discípulos da primeira geração afirmava com tom meio enigmático ter ficado quatro anos a estudar, treinar e desenvolver elementos sempre à volta do primeiro Tao - o Tao 1.

Este TAO dá-se agora no mais mínimo espaço de tempo, porque os meninos têm sede de aprender "mais taos" e os papás querem vê-los com os tão ansiados cintos de cores giras... o que também não é mau :)

Isto faz-me pensar em "porquês...

Penso que o tempo é uma medida de QUALIDADE mais do que de quantidade...

... penso numa certa cena de um filme "Karate Kid" - com Jada Smith e Jackie Chan: de um professor a segurar o guarda chuva enquanto o aluno pendurava um casaco, o atirava ao chão e o pendurava outra vez.... num poste de electricidade que era um "wooden dummie disfarçado"... e depois a cena seguinte do guarda chuva atado a um poste enquanto o aluno repetia veze s e vezes sem parar o mesmo movimento, a mesma estrutura... a mesma ATITUDE...

... lembro que lhe comentei essa cena ao Mestre... as lágrimas vieram ao seu olhar: lágrimas de outro tempo, de outro lugar, de outra pessoa que - tal como no filme - também ele aprendera a amar...

Hoje - se não se cativa o practicante - perde-se um aluno...

Os tempos do "laxismo" são tão óbvios que - qualquer aluno ao que se lhe pede um exercicio e que fica nele: aprimorando ou aperfeiçoando se já é desperto... perseverando se tem a semente interna que tem de ter para praticar - então encontramos uma pérola entre tantos que- pura e simplesmente - se deixam levar pela corrente da vida num rio meio cinzento, águas frouxas, cantar bacilento... se deixando levar sem brio para o seu Mar frio...

O primeiro elemento - a rocha que te sustenta: a posição, a firmeza do teu pé no chão, a mestria e destreza com a que se deslocam os teus eixos ou a compostura com a que se dissolve um qualquer golpe exterior no teu ser coeso, sereno, centrado...

Quanto se tem de procurar o foco num mundo acelerado: com máquinas espelho que obrigam a mente a mudar de plano de 5 em 5 segundos, a mudar de emoção com cada novo momento do filme, com cada novo protagonista de ocasião?...

Seres voláteis estamos a ser... seres volúveis - por isso nos podem mover e remover sem nos queixar, sem nos doer...

A arte marcial é um tesouro - um legado ancestral - de culturas e povos que firmaram seu locus - seu lugar - neste mundo e no tempo nos que lhes foi dado viver e lutar... perseverar... avançar..

Não se pense que tudo é esforço... mas tudo implica esse esforço... subir a montanha é assim mesmo - sempre: firme, seguro, pé ante pé...

Quando não se sente a presença da própria forma aplicada no mundo presente - talvez... apenas talvez - se tenha apanhado um trecho da montanha que leva o praticante a descer.... acelerado... pés descoordenados... cabeça febril a arder... saltitando entre objectos e objectivos vagos, apresentados de forma célere enquanto vai o ser cada vez mais dormente, sendo embalado a caminho do vale de onde - um dia - se determinara a se elevar...

Por isso - sim- dançar nas encostas da vida, quando não há outra saída se não baixar... permanecendo fiel na consciência do caminho préviamente traçado, da firme vontade neste entrelaçada - o compromisso de se refinar em caminho válido para que outros possam um dia também passar e - à sua própria maneira andar: no seu próprio intento de manter olhar atentento a esse "cume"... que um dia... talvez algum dia - poderemos TODOS alcançar...

Caminho Marcial

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