segunda-feira, 11 de março de 2013

Pedro...


Conheci este ser pelos lados de Barcelos...

Tive o privilégio de acompanhar a sua Mestria, durante o curto espaço de tempo que nos foi dado a interagir...

E - sabendo que MESTRE só há um: esse oculto que se deposita por dentro daqueles que - com devoção e verdade - praticam a virtude e a via de forma perseverante, sei também que a mestria do Pedro era algo que transcende a minha compreensão... apenas posso celebrar o facto de que - um irmão do caminho - se mantivesse: dia a dia, independentemente da RESISTÊNCIA ou do ANTAGONISTA - fiel ao AMOR e DEVOÇÃO à ARTE...

Treinando todos os dias, da forma que o espaço permitia, da forma que os meios deixavam fazer, da forma - A FORMA - que aqueles em redor permitiam, compreendiam ou até partilhavam essa chama de intensa paixão (pois quem ama - a arte - apaixona-se de tal forma, que - sem arte - não respira, sem Tao - não vê o caminho, sem exercitar um dia - perde o rumo ou a via - pois, entranha de tal forma esta forma de vida, que a vida carece de sentido se assim não for vivida...

E o PEDRO - VIVEU!

Recordo como, um dia - no castelinho de Cerveira, num pique nique improvisado pela familia que o aconchega - me procurava fazer notar as mil e uma formas que ele sabia, o quanto de kung-fu adquirira, quanta vida havia no seu ser de praticante marcial...

Marcial - porque - dia a dia, mesmo com a Leucemia - se levantava... e lutava... aquele "combate" que todo praticante conhece - o combate com a sombra, com a resiliência, com a resistência que é o que ainda temos a burilar, os degraus a subir no nosso lento caminhar, o dragão que confronta com a sua verdade ideal o tigre e a sua devoção bem real...

O PEDRO VENCEU!

Porque - quando todos lhe diziam que já era dia - o Pedro mostrava: com valentia - que o dia não chegara, que a vida é quem comandava e - que entre as sombras - havia sempre uma luz que o animava... além daquilo que o medico predizia, além daquilo que a psicologia definia, além daquilo que quem o rodeava compreendia... pois - o Pedro: dia a dia - ia mais longe, mais alto e mais profundo do que algum de nós chegará algum dia...

Quando a carga é pesada - apenas denota a força interior de quem caminha...

Quando o caminho é tortuoso - apenas denota quanto sabe o caminhante acerca da verdadeira direcção do seu rumar... pois entre as curvas e reviravoltas da vida - mantém o leme firme... e pratica... e mantém a chama tão acesa - que até leva outros a experimentar...

Assim me contavam as irmãs, e a mãe . quando me falavam como lhes ensinava Taos e formas, como fazia Kung-fú... como falava das pessoas que amava na prática..

dos companheiros: irmãos deste nosso caminho comum...

Fiquei a saber que nasceramos na mesma escola - e foi com essa escola, Di-Som, que o Pedro foi vestido para a morada do seu corpo... enquanto o seu ser já está entre aqueles que transcenderam... e o círculo supremo incorporaram...

Fiquei a saber que temos imensos irmãos e irmãs por este mundo fora... e alguns estavam tão perto como perto se encontra aquele que mantém a devoção em algo... que o UNE e INTEGRA num entrelaçar de mãos que - ainda distantes - são sempre presentes:

A nossa mesma devoção e ideal - ainda que fale linguagens garridas e cores aparentes que se fragmentam da mesma cor original - a LUZ que se partilha e o amor à Arte Marcial...

Que é serviço à humanidade sob a forma de refinar o nosso ser natural de volta ao sublime que é praticar e caminhar - de corpo, mente e devoção - um trilho antigo, de voltas mil - que traz quem o segue com carinho - de volta à matriz original...

O Pedro chegou lá...

Entre as sombras - o Pedro Brilhou.

Assim me contava a irmã que agarrava a mão quando o seu corpo expirou... assim me dizia a irmã que o arroupou... que lhe disse a quem o cingiu para esperar - que ele trazia um cinto que apenas ela saberia atar:

pois para aquele que o amortalhava - não iniciado - seria apenas uma faixa...

para ela - que partilhara o amor do irmão à arte - aquele era um símbolo de uma tradição milenar - que se estende além do tempo e a todos congrega para ajudar...

E foi com as suas esferas de Baoding - não as duras, mas aquelas que faziam "tlin tlin" - dizia a sua Mãe assim, enquanto sorria e pedia explicações acerca de como se usavam as pequeninas, e as médias... e sobrinhos no quarto brincavam já com as esferas... assim se espalhou a arte do Pedro entre tantos que o conheceram...

E pediram aos grandes uma bandeira - para que nela estivesse embrulhado - a bandeira daqueles que triunfam - por uma vida de amor dedicado... e trouxeram os grandes a bandeira da sua arte - e com ela o seu corpo foi enterrado...

o PEDRO - esse - está aqui:

comigo que escrevo e contigo que o lês...

bem a nosso lado!



Saúdo Marcial

Honra ao que honra a arte.

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