quarta-feira, 13 de março de 2013

WU-DE II -O - UM SER QUERIDO...





Um dos momentos em que vivenciei qualidades como a humildade, o respeito, a honra, a confiança, e a virtude foi, por mais estranho que pareça, no dia em que a minha avó faleceu.
Foi dos momentos mais bonitos, claro que com sofrimento, mas penso que uma pessoa que criou uma mãe tão maravilhosa, só poderia falecer da melhor forma.
Durante meses este familiar esteve numa luta contra o cancro, mas como já era tarde demais não valia a pena interná-la para apodrecer num hospital cheio de doentes, pois assim ela não iria viver, mas sim sobreviver.
Assim sendo, voltou para casa e numa tarde de domingo, quando toda a minha família estava a acabar de almoçar, eu fui até ao quarto da minha avó ver como ela estava, e demonstrou sintomas muito estranhos, chamei a minha mãe e quando ela a viu percebeu que estava na hora de partir. Ligamos a todos os nossos familiares, filhos e netos da minha avó, para virem o mais depressa possível.
Como não queríamos que ela partisse num ambiente de choro, a minha mãe pediu que todos cantássemos para a nossa avó, pois um sonho que ela tinha era ser cantora, e uma das últimas coisas que pediu á minha mãe foi que cantasse para ela.
Desta forma partir, na tarde de domingo, com os filhos e os netos a cantarem para ela, naquele calor familiar e na sua zona de conforto. 

Penso que não posso descrever um momento que se sobreponha a este em termos de valores, amor e devoção!  



Que dizer?

Quando há a passagem, há um momento no que TODOS são confrontados com a REALIDADE.

Até esse momento, o praticante, o ser humano que integra, navegam no mundo dos conceitos, das definições, das correntes psicológicas, dos "ismos" (socialismos, marxismos, capitalismos, cristianismos, comunismos...) - tão em voga no mundo actual, no que a razão se apoderou e assenhorou de tudo...



O Momento da PASSAGEM traduz HUMILDADE: no sentido em que a Razão ENDEUSADA  - se não tiver sido refinada até aquele momento - chega a reconhecer a sua essência e pertença a um algo que a transcende e que - denominamos "VIDA" ou "CONSCIÊNCIA"...



Há uma expansão tão grande, reconhece-se de forma tão vivencial o que é REAL daquilo que é a IMAGEM artificial, na que se viveu a tempo inteiro.

Poderemos falar do processo através do qual - como praticantes - nos INTEGRAMOS num todo sinérgico do que SEMPRE FOMOS PARTE sem que - de momento, (e salvo os raros "ILUMINADOS" ao longo do seu percurso vital) - se tivessem "descolado" ainda  as várias identificações (máscaras ou "persona") que nos dão sentido enquanto parcela (sentimentos e emoções mais as diversas definições mentais) de um TODO MAIOR EM CONSTANTE MUTAÇÃO. 

Ofusca-se assim a consciência translúcida para sua integração - factual e irremissível- no tecido vital consciente do que realmente faz parte



Ignorante da sua fonte, esta "água viva que flui" nos caminhos da vida - vitalizando tudo e todos por onde passa - passa a reconhecer plenamente (a vivênciar ou experiênciar - a "saber desde dentro") a sua fonte - até ai ignorada.



Falamos de Praticantes como poderíamos utilizar uma outra metáfora - como a de peregrinos ou caminhantes na via da virtude - dentro das paragens que a vida tece em de redor: 

experiências que levam o ser consciente a OPTAR de forma a ir descortinando os véus do seu VERDADEIRO SER ou SER ESSENCIAL/ PRIMORDIAL.



Há seres que optam por se manter dormentes - e assim dão ênfase ao mundo das formas, das dimensões e do tempo:

abstracções ou protocolos de consciência colectiva, assumidos pelos seres através do seu livre arbítrio incipiente;

 e há seres que, tendo-se precatado da sua intrínseca ligação a tudo e a todos, procuram vias ou caminhos (ou métodos válidos) para exercitar este "desabrochar" de se ser semente para se transformar no rebento que procura a luz do sol e - assim - poder se transformar, florir, dar frutos e 

VERDADEIRAMENTE - alimentar a humanidade em concreto e o SER em geral.



caminhantes nesta vida:

 pois todos praticamos (com a devoção e verdade que a nossa vontade e compromisso atingem) um caminho ou outro:

  - seja um casal na devoção e verdade ao projecto comum, sejam os pais na devoção e verdade à família que constroem, sejam outros tipos de devoção e verdade que se tornam via (Dao) ou caminho para aquele que trilha as veredas da existência.



Partilho consigo a ideia de que - na transição - as pessoas que rodeiam o ser que transita - devem estar em paz elas mesmas com a ideia da sua própria e aparente "finitude". 

Os miasmas e apegos que aqueles presentes transportam, podem ser ecos demasiado caóticos para que a grande passagem - ou grande despertar - se dê nas melhores condições possíveis para a semente de vida que desponta para o seu novo ciclo.



Depois de alguma experiência nesta área - a minha vertente profissional assim ensinou - constato que o mundo das emoções é muito vasto: 

e os vínculos afectivos não amadurecidos pela verdade, ficam aquém de se integrar e transformar em devoção.

Assim, muitas vezes sucedâneos de laços ou pontes que gerassem harmonia e sinergia (função primordial do evolutivo emoção-sentimento-Amor/Devoção)... estes laços geram apegos, que não os que se pretendem de uma força que permite a aproximação entre duas entidades que se apresentam como aparentemente "diferentes" até que se reconheçam interiormente como "semelhantes".

Aqui finaliza a função da emoção - no sentido de "emovere" movimento para o "outro" - e começa o período de cultivar a "devoção" - relação de verdade que perdura no tempo, reconhece desde dentro e liberta os intervenientes que dela fazem parte para que - libertos - possam integrar e ocupar o seu espaço no ciclo harmonioso do qual foram gerados.



Dai que - com RESPEITO - nos momentos nos que estive num domicílio fazendo parte destes processos de transito ou passagem - sabendo que o ser EXPANDE a sua consciência: 





como um recém nascido pronto para sair da barriga materna na que se encontrava, 

ou uma semente prestes a germinar 

- as pessoas que se encontram em redor devem estar com as suas próprias fobias e medos bem serenados e resolvidos e os vínculos de apego que se encontram ainda por madurar devem ser afastados daquele momento para que o ser possa transitar de forma amena, suave...

Os aspectos físicos contam na fase inicial - o som de ambiente, a luz amena, a temperatura e os odores suaves... o toque amigo ou aconchegador do ser que ama, a voz pausada, serena e conhecedora que fala ao que vai "nascer"... tudo isto é importante.





No momento da EXPANSÃO - o ser que transita entra em contacto directo com o interior de si e dos que o rodeiam - antes de integrar consciente a harmonia da que é parte e que o permeia - logo, todos os miasmas, os apegos, os atritos, as confusões com o que está a fazer passagem devem ser afastados desse local para que não toquem o ser interior que agora se abre como uma flor, ou se expande como uma esfera de luz tão suave como invisível....



Tempo haverá depois para que os que ficam no plano material - das formas e do tempo - possam lavar, resolver, integrar esses miasmas da melhor forma para que - na sua própria transição - possa existir o sentimento de à vontade, leveza e expiração suave e simples que já presenciei junto de pessoa com tudo aquilo até agora descrito: 



seres queridos a servir de ancoragem serena e validada e boa parte da sua existência resolvida em termos de identificação a formas que ofuscam a visão cristalina de INTEGRAÇÃO num TODO maior e mais ELABORADO do que alguma vez a mente possa conceber.


Todos os dias TREINAMOS este "despojar-se" das vestes aparentes que habita a vida ou consciência - e todos os dias nos habituamos a vestir novamente essas vestes e desempenhar o papel duplo daquele que reconhece ser uma parte (uma célula do seu corpo "O") gradualmente consciente de albergar em si o mesmo princípio, a mesma matriz, a mesma sintonia que dá origem a todas as outras células que - em sinergia e indo além da sua soma pelo mero número - servem, de ancoragem à consciência na forma e estrutura que reconhecemos como "O".



A mesma vida, o mesmo eco - diferentes frequências para se fazer notar - pois cada um de nós é traduzível como um múltiplo inteiro de uma consciência universal - um múltiplo Harmónico ÚNICO que integra uma "melodia " - se se pode colocar este tipo de aproximações em termos metafóricos - na qual, mal os nossos acordes se encontram afinados, sintónicos - 



compomos e fluímos assim no TODO que a HARMONIA UNIVERSAL gravou no nosso ser e que desperta o momento de iniciar OPÇÕES CONSCIENTES que levam - gradualmente - a um DESPERTAR para a realidade concreta "EU SOU A VIDA".



Até lá - como sementes ainda incipientes - umas mais ligadas à terra escura e ao mundo que se sonha: 

semente dormente dentro da sua casca e do mundo interpretado à luz daquilo que a mesma casca permite - ignorante do Sol, do Ar, dos restantes SERES da SUPERFÍCIE (ou SUPERIORES).



Vai assim o ser vivendo uma vida aparentemente ligada a outros - quando - de facto, esta ligação se processa sempre dentro dos limites da sua "redoma" ou casca de semente ainda por GERMINAR 



- é como se o indivíduo fosse ainda um DORMENTE - imaginando tudo através da sua mente - sem EXPERIÊNCIAR  verdadeiramente "aquilo" que nos nutre desde sempre e que sempre está "LÁ".



O despertar da consciência é um mistério. 

A mente, endeusada pelo método reaccionário ao mundo religioso restritivo -  e oriundo do humanismo iluminista dos séc. XVI e XVII  - tornou frases chavão como "penso logo existo" em dogmas de fé cega, que se espalharam pelo mundo ocidentalizado como fachos a arder nos campos de Verão...



Assim - esta "REACTIVIDADE" apenas reforçou a CEGUEIRA contra a que se pretendia erguer -  e gerou um sistema ainda mais DENSO, com uma trama ainda mais COMPLEXA e que representa o LABIRINTO que a consciência deve percorrer no seu caminho de regresso à LUZ de Harmonia da qual é centelha e parte viva.



De facto, a mente é uma PARCELA de um TODO SINÉRGICO - muito mais vasto e abrangente. 

O "endeusamento" da razão levou a que - em termos de analogia - se visse a célula descamativa epitelial como "não importante" versus o supremo neurónio... 

de facto - sem esta camada epitelial - o corpo estaria sujeito a infecções ou simples choque neurogénico por estímulos nervosos não modulados por barreira... 



o ser humano é uma parte da boneca "matriosca" que compõe um TODO COESO -

 INTROSPECCIONAR e VIVENCIAR a EXPERIÊNCIA HUMANA no seu todo ABRANGENTE é entrar em sintonia DIRECTA com a Matriz de Harmonia original na que nos encontramos embebidos...

Tanto a natureza como o sentido da vida humana serão - POR SEMPRE - um mistério para a mente que busca... 



apenas certos "reflexos" poderão dar APROXIMAÇÕES de algo que - simplesmente, por nela estar integrada e dela ser fruto ou estrutura gerada - estará esse "algo" sempre além da mente tradicional...

Tudo isto para invocar o PRINCÍPIO da HUMILDADE (não sabemos, nem saberemos - para nosso bem enquanto seres ainda em desenvolvimento - tudo);

 e o MÉTODO que foi desenvolvido (lembremos - com escassos 400 anos de existência numa humanidade que caminha a passo firme e coerente faz mais de Dez Mil) resultou uma ferramenta válida para coisas concretas e pragmáticas ligadas à OPERACIONALIZAÇÃO de elementos parcelares (dita tecnologia e áreas de saber livresco, académico ou escolástico);

Este método apenas responde à premissa "COMO", estando totalmente incapacitado para responder à premissa "PORQUÊ"... área ontológica na que cada ser humano é uma porta de entrada para a resposta ao mistério da sua existência... e método algum poderá poupar o ser consciente a ter de percorrer o caminho que leva ao centro onde essa "RESPOSTA" habita - cada um terá de o fazer por si... todos juntos neste mesmo caminhar...



O Efeito Pernicioso de um MESMO MÉTODO para DIFERENTES SERES e  POVOS resultou em que - ao se endeusar e transformar na nova "RELIGIÃO UNIVERSAL" - este método alienou pura e simplesmente outras vias possíveis (usurpando os caminhos possivelmente válidos que diferentes culturas e tradições adoptaram para si como seus e eficazes, sem que - para isso - lesassem outros na sua digna e justa demanda afim).

Afastou o ser humano de CAMINHOS VÁLIDOS para a VIVÊNCIA ou apropriação da realidade - APREENSÃO da experiência- da FORMA PARTICULAR E ÚNICA que a própria matriz Universal de Harmonia concebe, para que todos se constituam múltiplos perfeitos nessa MESMA E MISTERIOSA FREQUÊNCIA FUNDAMENTAL.




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